quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

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Você acha que a vida acabou, mas ela nem começou. Um simples amor pode sim acabar com muitos sonhos, promessas e acabar dando uma puta dor de cabeça. Um simples amor pode deixar a gente sem dormir por algumas noites, pode deixar a gente maluco a ponto de querer se matar, pode fazer qualquer música lembrar de todos os momentos “inesquecíveis” que você ainda não tem a consciência de que são esquecíveis. Um amor pode deixar a gente meio pra baixo a ponto de ir à terapia e só querer comer coisas gordurosas que engordam horrores. Eu sei mais do que ninguém que nenhuma mulher gosta de engordar. Então vamos parar por aí. Nenhuma dor é eterna, e se for, a gente morre no fim mesmo. Nenhuma mágoa é eterna, e se for, nem era pra dar certo mesmo. A gente encontra pedra onde não há, faz tempestade em copo d’água e acha que, nossa “minha vida acabou”. Acabou porcaria nenhuma! Se você quer você vai atrás e luta por isso. A gente pode tropeçar no começo e fadigar depois de alguns passos, mas a gente se acostuma com a luta diária. A vida não acabou, são simples problemas e fáceis de serem superados. A vida não acabou e você fica aí, deitada nessa cama, esperando ele voltar de mala nas mãos e com uma saudade imensa no peito. E sabe de uma coisa? Ele não vai voltar. Não vai! Aliás, nem saudade ele sente. Agora para de ser idiota e vai viver… A vida tá batendo na sua porta e seu orgulho não deixa escutar. Vá viver. A vida não acabou, é uma simples pedra. A gente acha que a vida acabou, quando na verdade, ela nem começou. A gente se mutila, se corrói e faz um drama terrível. E me diz, pra quê? Se fizermos alguma coisa, que seja pela gente. Que a gente chore porque não conseguimos passar no teste seletivo de uma faculdade. Que a gente fique em casa porque está passando um filme bom na tevê. Ninguém merece o nosso sofrimento. Ninguém! E quando merecer, ele vai ficar, e não vai haver necessidade nenhuma de sofrimento ou qualquer forma de arrependimento. Agora tira essa pantufa, arruma o cabelo, coloca uma música bem alta e vai viver. Lápis de cor você tem, agora, quem decide com que cor pintar o mundo é você.
— Alugue Felicidade.  

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

sobre uma realidade não muito conhecida.

Falar da minha doença é um desafio e tanto, mas que nunca poderei me acovardar a fazer. A artrogripose múltipla congênita é uma doença ou síndrome caracterizada por limitar as articulações e atrofiar os membros, o que faz com que não seja possível andar e tenha que depender de uma cadeira de rodas para se locomover. No meu caso, a escoliose, num grau elevadíssimo, atrofiou minha coluna por anos devido a demora na fila de espera das cirurgias e com isso a chance de consertar cem por cento o meu quadril se tornou menor. Fiquei cinco anos ou mais sem conseguir sentar, pois a dor em uma de minhas pernas me provocava sensações de desmaio e tamanho desconforto em questão de minutos. A curvatura na coluna era absurda e o quadril não suportava o meu peso. Precisava de um alinhamento. Nos últimos três anos, realizei as três cirurgias que mudariam a minha vida. Bom, foi o que acreditei que aconteceria durante oito anos de espera. Mas, pra variar – como sempre tem que variar, não consegui sentar por mais quatro anos. Os pós-operatórios foram os mais delicados das nove cirurgias realizadas no meu corpo. Dores pra lá, desânimo pra cá. E começam as sessões de fisioterapia. Perde-se mais um ano sem faculdade. Meu ensino médio foi concluído na minha casa. E como se fosse só aguardar cirurgias e equilibrar meu psicológico constantemente, sempre me virei muito bem. Com atrofia também nos braços e nas mãos, uso uma caneta na boca para digitar e conseguir usar o celular. Só consigo manusear o mouse com o auxílio do teclado virtual para o computador. Alguns anos de prática e logo adquiri mais uma habilidade. Tive uma melhora significativa depois de conhecer a fisioterapia a domicílio, mas a evolução só virá com o passar do tempo. No começo da vida, achei que seria modelo e até ortopedista. A gente sempre acha que vai alcançar os sonhos distantes quando cresce e que aquela situação de não poder é só uma fase momentânea, mas algumas coisas realmente não estão ao nosso alcance. Às vezes me perguntam: “como você consegue não reclamar da vida?” Nunca saberei dar uma resposta convincente. Mas essa é a vida que eu vivo e tenho um orgulho danado de ser assim. É estranho não ser considerada comum na sociedade, mas essa é a realidade. A minha realidade.
 Sara Ferreira

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A vida é um mistério. A gente nunca sabe as encrencas que ela está disposta a nos fazer encarar. Por exemplo hoje, tava lá eu, naquela manhãzinha fria caminhando até a padaria como de costume, de repente, ao virar a esquina, o destino com toda sua bondade — e vontade de que seus planos dê em certo — , nos esbarrou novamente. “Oi, é… Quanto tempo! Você está bem? Ah, que bom… Bem, eu já não posso dizer o mesmo. Não, não estou fazendo drama, você já deveria saber que eu sou assim. Ah, não se lembra? Desculpa, ás vezes esqueço que nem todo mundo é bom com lembranças igual eu. Mas vem cá, você esquece rápido demais das coisas, não? Ah sim… Você acha que se passou tempo demais desde que a gente… Bem, entendi. E você, conheceu alguém? Casou? Teve filhos? — Nesse momento eu cruzei até o dedo mindinho do pé e pedi a todos os meus santinhos que sua resposta fosse negativa —. Oh… Desculpa essa minha cara de espanto e respiração ofegante de repente, é que, bem, fiquei surpreendido… Não, por favor, não me leve a mal, muito pelo contrário, penso como alguém tão… Enfim, alguém como você não tenha encontrado outro alguém ainda. Por que eu estou falando tudo isso? Ah, não sei, é que… Bem, te ver assim, do nada, me veio todas as coisas boas que aconteceram quando a gente tinha a gente. Lembra daquela vez que você alugou um filme e me fez assistir contra a minha vontade? Como era mesmo o nome? Daquela menina que tinha Labirintite… — Por um segundo tudo que estava ao meu redor paralisou e eu só conseguia prestar atenção em como ela ria tanto… E como era lindo ela rindo daquela forma. E me deu saudade daquela risada. — Por que está rindo assim? Ah, era Câncer? Que idiota…. Me desculpa! Ah é, me lembrei! Chamava Um amor para Recordar… E me lembro de como você ficou brava por que eu dormi na melhor parte e te deixei chorando sozinha. Se eu me lembro daquele ursinho que ganhamos no fliperama no dia do seu aniversário? Claro que sim, você apelidou de Bob! Não? Ora… como era então? Tob, caraca, como pude me esquecer do Tob. Sim, eu disse que sou bom com lembranças, é que encontrar você… Bem, me deu um falta delas. Você está livre amanhã? — Pensei comigo: Se conheço bem, ela vai se fazer de difícil, dizer que precisa olhar na agenda e tudo mais. — Ah, precisa ver, certo… (Bingo)! Mas consegue dar um jeito? Que ótimo. Aquela sorveteira que sempre íamos? Pode ser, você ama aquele sorvete de Pistache. Bem, Até logo então.” Virei as costas, e meus batimentos variavam de 1 a 1000. Agradeci meus santinhos e soltei no meio da respiração: Se a vida é realmente um mistério, eu quero ser um eterno misterioso.
— Pedro Pinheiro.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

— Alugue Felicidade.

A verdade é que eu sou desastrada demais. Sou desastrada a ponto de me machucar com qualquer coisa. Quebro copos e pratos lavando a louça, bato o meu dedinho do pé no canto do sofá, tropeço nos meus próprios pés e de vez em quando eu me machuco com a coisa mais banal e inimaginável. Erro diariamente e sou a pessoa mais errada e torta que um dia alguém pode conhecer. Sou a pessoa mais irrelevante e, de vez em quando, mais grossa possível. Sou fria, e a maioria das vezes, sou um amor de pessoa. Sou um amor, e mesmo não querendo ser enjoativa, eu sou. Gosto de coisas a moda antiga e adoro receber cartas. Cartas de um amor, amigos, da minha avó, do meu pai, da minha mãe. Gosto de coisas antigas. Discos, caixinha de músicas e essas porcarias que hoje não se vende mais. Sou irritante, e algumas vezes sou suportavelmente idiota. Posso ser desastrada, e quebrar algo de primeira. Já perdi coisas no ônibus, na rua, no cinema, na casa de alguém e já deixei cair um celular que nem era meu. Me machuco atoa e sou uma pessoa consideravelmente delicada. Sou frágil, mas isso não impede minha ignorância. Sou desastrada e por mais que seja torta e insuportável, sou legal. Sei dar conselhos e por mais que isso soe como insanidade, sou uma ótima companhia. Sei fazer os outros darem longas gargalhadas e gosto de pessoas assim, constantes. Sei dizer coisas lindas, a ponto de fazer alguém chorar. Sei “dar um tapa na cara” e mostrar a realidade. Sei ser inconveniente e o que eu mais queria é que alguém me fitasse e dissesse: “Ei, sente aí. Não precisa ser tão escandalosa e a mostra assim. Te fito, e não gosto disso.” Eu queria é que alguém botasse jeito em mim, e que me mostrasse algo melhor. Não somente os meus desastres. Sou uma pessoa extremamente a moda antiga, e por mais que eu seja doce o suficiente para te deixar com vontade de vomitar, sou rude às vezes. Eu, que sempre quis morrer de amor, passo aos outros a maneira mais feliz e única de viver feliz. Sozinho. A verdade é que o meu desastre precisa ser corrigido. Não por minha mãe ou por um livro de auto-ajuda. É alguém em especial. Na verdade, eu nem consigo mais desejar um amor. Hoje em dia só desejo não bater com o meu dedinho no canto do sofá.