segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Minha mãe


Minha mãe é a minha melhor amiga, mas me assumir bissexual pra ela, não foi nada fácil. Na verdade não me assumi, minha mãe descobriu. Ela percebeu através de uma troca de olhares entre eu e meu namorado da época. Ele trabalhava no shopping e eu levei ela até lá pra simular um encontro ao acaso e dizer: "olha, mãe! esse é meu amigo, ele é uma pessoa ótima, você precisa conhecer, etc". Mas mãe é mãe, né? Ela sacou no momento em que o meu olhar se cruzou com o dele. Tudo bem que o brilho nos olhos e o sorrisão no rosto facilitou um pouco, mas ainda assim, a percepção dela foi incrível. Depois dessa descoberta, ela, que sempre me deu todo o amor do mundo, sempre me apoiou em todas as minha decisões, parou de falar comigo. Antes de parar de falar comigo, foi cruel e me disse coisas pesadas, como: "eu preferia ter morrido antes de descobrir isso" e coisas do tipo. Doeu muito. Eu me sentia envergonhado, como se o castelo que tinha construído durante a vida, estivesse desmoronando. Eu, que sempre fui sinônimo de orgulho pra minha família, agora já não conseguia olhar nos olhos da minha mãe, porquê sentia que havia decepcionado-a da pior maneira possível. Porem, eu não estava mais disposto a voltar pro armário. Saí de casa, fui morar com amigos, fiquei doente, passei bastante dificuldade, chorava todos os dias no banheiro do trabalho, ou, às vezes, na frente do computador, quando as lágrimas não me esperavam correr pra me esconder. Chorava antes de dormir e às vezes acordava chorando. Foi a fase mais triste da minha vida. Eu tinha a minha liberdade, mas não tinha o apoio da pessoas mais importante da minha vida. Eis que o tempo foi passando. Minha mãe sofreu com a minha ausência dentro de casa, tirou um tempo pra refletir sobre tudo, passamos a nos encontrar, mas nunca tocávamos no assunto. Acho que ela passou a sentir a minha dor e começou a me entender, se ela conseguiu descobrir meu namoro através dos meus olhos, provavelmente também via a minha dor. Na véspera do meu aniversário de 2015, ela foi até na frente do meu apartamento pra me dar parabéns, já que eu nós não nos veríamos no dia seguinte. Entrei no carro dela, ela com os olhos cheios de lágrimas, me deu um abraço apertado e desabou em choro. Eu, que choro até assistindo aqueles programas sensacionalistas de domingo, também desabei. Chorava feito criança e me sentia acolhido dentro daquele abraço. Quando se acalmou, me disse a frase mais linda que eu já ouvi e que trouxe paz pro meu coração: "Filho, eu te amo e te aceito exatamente do jeito que você é, e se eu pudesse te fazer de novo, te faria igualzinho, sem mudar nada". Obvio que choramos ainda mais. Foi o melhor presente de aniversário que ela poderia ter me dado. Minha vida ficou mais leve e à partir dali eu me senti preparado pra encarar qualquer problema relacionado a minha sexualidade, afinal, minha mãe estava do meu lado.
PorEntreguei 

<3jipp o



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