terça-feira, 19 de janeiro de 2016

summerhigh

 




















Porque, Mulher?

Porque, mulher?
Querem que eu faça as unhas,
tire a sobrancelha e arrume os cabelos.
Querem que eu não coma gordura,
e que arranque todos os meus pelos.
Mas ainda posso ser dentista,
psicóloga,
psiquiatra
médica ou psicanalista
menos, femista.
Você sabe o que é femista? 
A pia deve estar limpa 
e eu devo ser linda.
Mulheres podem fazer tudo
perder tempo e dinheiro em salões
e depois limpar a casa,
pros seus maridos, bobões.
A noite devo estar pronta
porque sou criadeira
dar herdeiro pro marido 
e dinheiro pra parteira.
Devo cuidar de tudo
com um sorriso no rosto
enquanto cuido da casca podre 
a alma vira um esboço
fosco
tosco.
Sem vida
alma vazia.
Mas beleza no rosto.
insanidade inconstante

domingo, 17 de janeiro de 2016

— Ele me escreveu isso em 2012. Até hoje choro quando leio

Ei, eu sei que tá difícil me esperar, mas por favor, não desiste da gente. Você não sabe o quanto eu te amo, o quanto eu te quero bem. Você me faz sentir uma coisa que eu nunca pensei que fosse sentir um dia. Você é tão importante na minha vida. Eu quero que você saiba que mesmo de longe, eu sempre vou cuidar de você, vou te proteger de tudo e de todos que te fizerem mal. Eu sei que sou o cara mais idiota do mundo, sei que só sei brigar contigo e sentir ciúmes, mas você sabe o motivo disso, eu não quero que você seja de outro, quero que você seja minha, só minha e dos nossos três filhos. Todas as noites eu olho pra sua foto e te imagino comigo, eu peço a Deus pra que a gente dê certo, pra que seja assim: eu, você, nossos filhos e um cachorro. Não é fácil te ver longe de mim e saber que eu posso te perder a qualquer momento, que você pode me esquecer e dizer que nunca valeu a pena me esperar, mas eu quero que você saiba que suas dores são as minhas agora, tudo que você sente, eu também sinto. Eu quero te ajudar, quero pegar a sua mão e dizer que tudo isso vai passar, que eu sempre vou estar ao seu lado. Lembra da nossa primeira promessa? Eu lembro. Na verdade, eu lembro de tudo que aconteceu entre a gente. Lembro da nossa primeira briga, que foi por causa de ciúmes, sempre é por causa de ciúmes. Eu queria tanto dizer tudo o que eu sinto te olhando nos olhos… Não liga quando eu disser pra você sumir ou me esquecer, é puro medo de te perder, é insegurança, medo, ciúmes, tudo misturado. Mas eu te amo, amo muito e eu não quero ver a minha pequena sofrendo. Você tem o sorriso mais lindo do mundo, você é perfeita, mô. Você sabe que eu sempre vou cuidar de você, não sabe? Do meu jeito atrapalhado e idiota, mas eu sempre vou cuidar de você. Eu sonho com você todas as noites, com nós dois juntos na nossa casa e você me sujando com sorvete de maracujá. Eu quero que você seja forte, que não desista da gente, essa distância não vai me impedir de tocar você. Nós vamos ficar juntos e eu vou te fazer feliz. Eu sei que sou um estúpido, sei que sempre estrago tudo entre a gente por causa do meu ciúmes, mas é medo, puro medo de te ver com outro cara. Também sei que sou insuportável e mesmo assim você aguenta ficar comigo. Eu amo quando você sente ciúmes de mim, mas sei que te machuca e eu não quero te ver machucada. Dói saber que eu não posso fazer quase nada pra te ver bem, mas isso vai ser por pouco tempo, nós vamos morar juntos, tá? Sei que já te perguntei isso, mas… Pequena, casa comigo?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

loucuras da noite.

Quando estás sozinho o problema é teu, se houver gritos, lágrimas ou sentimentos só tu tens que lidar com eles, só tu tens que te preocupar contigo… até porque a roupa não se lava sozinha, a louça muito menos, o jantar não aparece do nada e o pó só sabe se acumular. Ali, no meio da solidão, as paredes têm rachas minúsculas que só tu vês, o espelho tem marcas transparentes que já conheces de cor, a tv tem manias que ninguém entende, no meio da solidão tudo à nossa volta parece fazer sentido e o mundo lá fora perde o sentido. O rádio não funciona, só dá pra CD mas ninguém se importa, a vizinha não trabalha mas levanta-se sempre antes das 8 e coitada, vive mais só que eu. A cama ao lado vazia, quartos por preencher, uma teia de aranha que cresce e eu aranhas nem posso ver. Na esquina raio da mosca não para, hey, esse bolo era meu!
Dentro da solidão eu brigo até com móveis, falo até com o céu. O sol vai e volta, sempre a horas diferentes e o relógio avariado bate o ponteiro como se batesse os dentes. Lá fora o jardim começa a crescer, era uma àrvore tão pequena e agora já é mulher.
— Cristina Lemos
Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou, se entender, não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de carinho e boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, pára de dar carinho e corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro. Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir! Nem que este lugar fosse apenas dentro de mim… Mesmo que ele não existisse mais em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banquinho do nosso amor, o nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas. No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio - é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha arte será uma grande mentira, as minhas histórias de amor serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote, é a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia. Agora em silêncio, tentando ensinar dragões a nadar.
— Rita Apoena.